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Sozinhas as “canetas emagrecedoras” não fazem milagre!

Canetas emagrecedoras

As “canetas emagrecedoras”, nome popular para a classe de medicamentos similares ao hormônio GLP-1 usados no tratamento do diabetes tipo 2, ganharam grande notoriedade, principalmente devido ao seu uso “off label” para o emagrecimento. No entanto, recentemente o FDA nos EUA aprovou o Wegovy® para o controle crônico do peso em adultos com obesidade e sobrepeso, sendo a primeira medicação aprovada para este fim desde 2014. Neste artigo, apresentemos o que são esses medicamentos, suas principais respostas no organismo, o que é “off label”, e a recém aprovação da semaglutida para o tratamento da obesidade no Brasil.

A origem multifatorial das doenças metabólicas é um desafio.

Doenças metabólicas como a obesidade são desenvolvidas por inúmeros fatores externos e biológicos. Os últimos dados epidemiológicos reforçam a obesidade como um grave problema de saúde pública ainda em expansão global. Segundo a Organização Mundial de Saúde, existem aproximadamente 2 bilhões de adultos com sobrepeso, enquanto 650 milhões são obesos. Não é incomum que a progressão da obesidade leve à resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão arterial, sendo muitas vezes associada a outras comorbidades como o diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e redução na expectativa de vida. Além destes fatores já conhecidos, recentemente a obesidade foi associada ao aumento no número de hospitalizações e morte em pessoas infectadas durante a pandemia da Covid-19.

O perfil multifatorial da obesidade requer que o seu tratamento envolva uma série de fatores complementares, dos quais podemos destacar a mudança no estilo de vida por meio da alimentação e prática regular de atividade física como um dos elementos mais importantes para o controle e manutenção da perda de peso de forma saudável. Infelizmente, esta manutenção é um verdadeiro desafio para milhares de pessoas no mundo.

Em virtude disso, as principais diretrizes clínicas de tratamento à obesidade sugerem a farmacoterapia de forma complementar, principalmente para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou acima dos 30 pontos, e igual ou superior a 27 em indivíduos com outras comorbidades. Apesar destas recomendações, o tratamento farmacológico sempre enfrentou grandes desafios, seja pela ação modesta dos medicamentos ou pelos seus efeitos colaterais e custo elevado.

Quais os efeitos do hormônio GLP-1 e seus análogos?

No início dos anos 90, pesquisas com o hormônio GLP-1 (peptídeo1 semelhante ao glucagon) indicavam um caminho promissor para o tratamento do diabetes tipo 2. Foi identificado que este hormônio produzido pelo trato gastrointestinal era responsável por até 70% da secreção da insulina pelo pâncreas em resposta à alimentação. Além disso, o GLP-1, também considerado um neuropeptídeo, possui receptores (GLP-1R) espalhados por vários órgãos no corpo, incluindo o cérebro, fato este, que futuramente fortaleceria a hipótese do seu papel no aumento da saciedade e redução da sensação de fome contribuindo para a perda de peso.

As inúmeras pesquisas com o hormônio documentaram clinicamente o seu efeito na redução da glicose, peso corporal, diminuição da pressão arterial e nos níveis lipídicos (triglicerídeos). Estes efeitos indicavam, de fato, o GLP-1 como um novo alvo terapêutico de grande relevância para o tratamento de doenças metabólicas. No entanto, o GLP-1 administrado tanto pela via subcutânea quanto intravesona era rapidamente degradado no organismo limitando o seu uso terapêutico.

A partir daí, os cientistas buscaram desenvolver moléculas semelhantes ao hormônio GLP-1 que não fossem degradados rapidamente e que tivessem efeitos mais prolongados no organismo, estimulando a produção de insulina e a redução nos níveis de açúcar no sangue. Isso foi possível por meio de modificações moleculares em pequenos fragmentos proteicos, chamados de peptídeos. Com isso, foram desenvolvidos os medicamentos para diabetes da classe dos agonistas do GLP-1 como a liraglutida, semaglutida, dulaglutida, exenatida e lixisenatidax.

Na bioquímica, um agonista é uma substância
química que ativa um receptor celular para
produzir uma resposta biológica. Geralmente o
agonista é uma molécula similar a originar
produzida pelo organismo.

Pesquisas clínicas indicaram que a classe dos agonistas de GLP-1 atua semelhantemente ao hormônio original, se mostrando eficientes para o tratamento do diabetes tipo 2, e apresentando melhoras no controle glicêmico, perfil lipídico, pressão arterial e redução de peso nos pacientes. No entanto, ainda não está completamente esclarecido como estas drogas farmacêuticas levam à redução de peso. O que já se sabe é que esses medicamentos retardam a passagem do alimento do estômago para o intestino, fazendo com que o individuo se sinta “cheio” por mais tempo.

Quais são as diferenças entre os agonistas de GLP-1, as marcas comerciais e por que alguns desses medicamentos estão sendo prescritos para o tratamento da obesidade?

Os resultados clínicos obtidos pelo uso dos agonistas de GLP-1 variam conforme a sua formulação, dosagem e tempo de ação no organismo. Os compostos de maior popularidade no momento são a liraglutida aprovada para comercialização em 2009, e a semaglutida que chegou ao mercado em 2017.

A liraglutida a 3 mg é administrada uma vez ao dia sob a forma de injeção e é atualmente comercializada sob o nome comercial de Saxenda®, licenciada e aprovada para a perda de peso. O mesmo composto, sob o nome comercial de Victoza® é administrado em doses menores para o tratamento do diabetes tipo 2. A ação da liraglutida é mais curta em comparação a semaglutida, os resultados clínicos indicam que ela tem um efeito maior no esvaziamento gástrico e na glicose após as refeições (glicemia pósprandial).

Por outro lado, a semaglutida faz parte da classe de análogos do GLP-1 de ação mais prolongada. Ela promove um menor efeito no esvaziamento gástrico e na glicose pós-prandial, porem induz um maior efeito na glicemia de jejum e na redução de peso dos pacientes. A semaglutida é comercializado sob o nome de Ozempic®, administrada por injeção uma vez por semana a 1 mg para o tratamento do diabetes tipo 2. A sua administração também pode ser feita por via oral uma vez ao dia, comercializada sob o nome de Rybelsus®.

Já se sabe que a semaglutida possui maiores efeitos de redução de glicose e perda de peso em comparação a liraglutida. Desta forma, a semaglutida passou a ser prescrita e utilizada de forma “off label” para o emagrecimento.

O termo “off label” é utilizado quando o uso do
fármaco não segue as indicações homologadas
para aquela droga farmacêutica.

Recentemente, testes clínicos comprovaram o efeito da semaglutida a 2.4 mg uma vez por semana na redução sustentada do peso corporal em pacientes com sobrepeso ou obesidade. A utilização da semaglutida foi recentemente aprovada pelo FDA nos EUA e pela ANVISA para o controle crônico de peso em adultos com obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade (como pressão alta, diabetes tipo 2 ou colesterol alto).

É importante ressaltar que a escolha do fármaco deve ser feita com orientação médica buscando mitigar os variados efeitos colaterais observados nesta classe de medicação como náuseas, vômitos e diarreia e em casos mais raros pancreatite. Neste sentido, é importante que haja o acompanhamento médico com o monitoramento de reações adversas para que seja possível minimizar qualquer dano a longo prazo à saúde.

Por fim, os estudos deixam claro que a eficácia do tratamento é obtida com a adoção de dieta hipocalórica e a prática regular de atividade física, sozinha, a “caneta emagrecedora” não faz milagre.

Fontes:

Knudsen LB, Lau J. The Discovery and Development of Liraglutide and Semaglutide. Front Endocrinol (Lausanne). 2019 Apr 12;10:155. doi: 10.3389/fendo.2019.00155.

Wilding JPH, Batterham RL, Calanna S, Davies M, Van Gaal LF, Lingvay I, McGowan BM, Rosenstock J, Tran MTD, Wadden TA, Wharton S, Yokote K, Zeuthen N, Kushner RF; STEP 1 Study Group. Once-Weekly Semaglutide in Adults with Overweight or Obesity. N Engl J Med. 2021 Mar 18;384(11):989- 1002.

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